

Autor: Odo Casel, OSB
Tamanho:148X210mm
N.º de páginas: 320
ISBN 978-989-8877-50-5
1ª edição: Julho de 2019
Colecção: Exsultet – 9
Título original: Das christliche Kultmysterium (1960, 4ª ed)
«A liturgia é tão ampla e rica como a relação entre Cristo e a Igreja, como as relações de Cristo e da Igreja com o Pai. É como um canto do amor mais puro e espiritual em que, alternadamente, a Esposa canta o Esposo, o Esposo canta a Esposa e ambos elevam juntamente o hino de louvor ao Pai que está nos céus».
Odo Casel
O Mosteiro de Maria Laach, Alemanha, procurou actuar de acordo com as instâncias do Movimento Litúrgico, dedicando-se à formação dos professores, do clero e dos universitários. Grandes figuras como Odo Casel, OSB (1886-1948) e Romano Guardini (1885-1968) ajudaram a renovar o conceito de Liturgia.
Dos chamados “teóricos da teologia da liturgia”, assume um especial destaque O. Casel, a partir do seu livro o mistério do culto cristão, a sua obra mais conhecida e escrita em 1932. O. Casel nasceu em 1886 em Koblenz-Lützel na Alemanha. Foi monge beneditino no famoso mosteiro de Maria Laach. Morreu a 28 de Março de 1948, na Vigília Pascal ao cantar o “Exultet”. O abade do mosteiro ao comunicar a notícia da sua morte apresentou-o como «o cultor e o mistagogo do sagrado mistério».
Casel foi, não só um estudioso, mas sobretudo o cultivador, mistagogo e teólogo do mistério de Cristo, abrindo novos horizontes com o seu pensamento e linguagem, na compreensão da Liturgia, revelando-se um precursor do evento do II Concílio Ecuménico do Vaticano.
O livro apresenta duas partes. A primeira – o mistério do culto cristão, repartida em 5 capítulos: 1) o retorno ao mistério; 2) o lugar do mistério do culto no cristianismo; 3) mistérios antigos e mistérios cristãos; 4) ano litúrgico; 5) o dia litúrgico. A segunda parte, sobre a plenitude do mistério de Cristo, contém a recolha de alguns dos seus manuscritos sobre: 1) a essência do mistério; 2) a Igreja como comunidade mistérica.
O volume em análise é enriquecido com um prefácio de Salvatore Marsili, OSB, e com a introdução e notas de Burkhard Neunheuser, OSB. Casel parte do facto de que a Liturgia cristã é denominada constantemente por mistério, descobrindo que os componentes essenciais do termo técnico-cultual são: 1) a existência de um evento primordial de salvação; 2) este evento tornou-se presente num rito; 3) o homem de todos os tempos, através do rito, realiza a sua universal história da salvação.
Por isso, define a Liturgia como a acção ritual da obra salvífica de Cristo, ou seja, presença sob o véu de símbolos da obra divina da redenção. A Liturgia acontece, portanto, como o mistério cultual de Cristo e da Igreja.
Ao longo do seu discurso teológico sobre o mistério, Casel tenta também uma definição do mesmo: «o mistério é uma acção sagrada de carácter cultual, na qual um acto salvífico realizado por um deus se torna actualidade sob a forma de rito; ao realizar o rito, a comunidade cultual toma parte no acto salvífico e obtém assim a salvação» (pág. 142).
O conceito de mistério e a doutrina dos mistérios são clarificadas através da história das religiões e ainda demonstradas com textos bíblicos, litúrgicos e patrísticos. Porém, «a resposta à pergunta pelo lugar do mistério do culto no cristianismo depende muito da resposta correcta à questão: que é o cristianismo?» (pág. 65).
Casel não parte do dogma, da lei moral ou do sentimento religioso na compreensão da fé cristã, para afirmar que o cristianismo no seu significado pleno e originário é “o Evangelho de Deus” ou “Evangelho de Cristo”. Por tal, é “mistério” no sentido paulino da palavra, uma revelação de Deus à humanidade através das acções humano-divinas plenas de vida e força.
A tese central é que os mistérios, que são acções salvíficas de Deus, não se esgotam numa doutrina e procuram a expressão nos símbolos. Todavia, apresenta uma diferença fundamental entre o mistério de Cristo e o mistério do culto: «o mistério de Cristo, segundo as cartas paulinas, é o próprio Cristo na sua realidade efectiva, ou seja, a revelação de Deus no seu Filho humanado, a revelação que culmina na morte sacrificial e na glorificação do Senhor. O mistério do culto, pelo contrário, é a representação e renovação ritual do mistério de Cristo, pelo qual se nos torna possível entrarmos a fazer parte do mistério de Cristo. O mistério do culto é, pois, um meio pelo qual o cristão vive no mistério de Cristo» (pág. 237).
A doutrina do mistério do culto estende-se aos sacramentos – “acções de Cristo no homem” e ao Ano litúrgico no seu todo como «imagem do eterno plano salvífico de Deus e contém o mistério de Cristo» (pág. 170).
O valor de Casel na história da teologia litúrgica é enorme, ao mostrar que a Liturgia é continuação e actualização do mistério de Cristo e da história da salvação, celebrada por meio de ritos e sinais. A Liturgia não é só memória, mas presença no “hodie” litúrgico; ela celebra sempre o mistério de Cristo, que é sempre igual na sua plenitude. Alguns teólogos, como Joseph Ratzinger, consideram mesmo a teologia dos mistérios de Casel como a mais original e fecunda do século XX.
+ José Manuel Garcia Cordeiro
Bispo de Bragança-Miranda
Presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade