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Autores: Papa Francisco e Carlo Maria Martini
Título original: Il Vescovo, il Pastore – L’autorità nella Chiesa è sempre “al servizio”
Tamanho:148X210mm
N.º de páginas: 104
ISBN 978-989-9081-69-7
1.ª edição: novembro de 2023
Coleção: Exsultet – 19
Trata-se de um texto focado na figura do bispo, de uma reflexão sobre uma das tarefas centrais na comunhão hierárquica da Igreja, e de uma reflexão que o arcebispo de Milão fazia sobre si mesmo, sobre o que tinha sido a missão pastoral a que ele, exímio biblista, a certa altura tinha sido chamado. Esta reflexão, aliás em tempo sinodal, será muito útil quer pela riqueza que contém, quer pelas perspetivas de eclesialidade sobre as quais convida a refletir.
A este contributo foi somada a colaboração do Papa Francisco, cujos textos, para além de refletirem diretamente sobre o texto de Carlo Maria Martini, permitem aprofundar o tema do ponto de vista estritamente pastoral, e que o Papa tem sempre particularmente a peito.
Bispo ou pastor (e,pi,skopos) aparece já 5 vezes no Novo Testamento (2x em At 20,28; Fil 1,1; 1Tim 3,2; Tit 1,7) com o sentido de ‘vigilante, estar atento, olhar à volta, guardião e visitador, apascentar, ter cuidado’ da comunidade, aquele que superintende aos costumes e à vida da comunidade, não sendo uma vantagem pessoal, mas um serviço para o bem daqueles que lhe estão confiados e a quantos preside, servindo.
O Papa Francisco e a leitura do livro “Il vescovo” do Cardeal Carlo Maria Martini, de saudosa memória inspiram uma reflexão acerca de quatro valores adaptados a este tempo da net generation, que já supõem a fé, esperança e caridade e ainda as virtudes cardiais (justiça, prudência, temperança e fortaleza) e são eles: 1) a integridade, 2) a lealdade, 3) a paciência e 4) a misericórdia.
De facto, muitos bispos pediram ao Cardeal Martini para traçar um perfil do bispo. Ele aceitou o desafiante pedido e, Arcebispo emérito de Milão, em 2011, um ano antes da sua Páscoa eterna, sintetizou assim o serviço episcopal:
1) Integridade. Ser uma pessoa íntegra e honesta é ser uma pessoa atual: «Não digas: “Porque foram os dias antigos melhores que os de agora”? Pois não é a sabedoria que te inspira essa pergunta» (Ecl 7, 10). O grande Fernando Pessoa, sabiamente escreveu: «Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive».
2) Lealdade. Dizer a verdade, significa não mentir e por nenhum motivo. Ser honesto é ser simples, isto é, ‘sem dobra ou vinco’ que não transpareça da sua vida alguma atitude de escondimento acerca das regras e das normas a observar.
3) Paciência. Um dia o Cardeal G. Siri aconselhou aos bispos cinco virtudes, ao que eu acrescento mais duas: 1. Paciência; 2. Paciência; 3. Paciência; 4. Paciência; 5. Paciência; 6. Paciência; 7. Martírio da paciência.
4) Há que ter paciência também com aqueles que nos convidam a ter paciência.
5) Misericórdia. A Igreja tem de exercitar ainda mais a sua função de mãe amável e atenta no acompanhamento de todas as pessoas, para que seja capaz de oferecer motivos de esperança a todos os que «jazem nas trevas e nas sombras da morte» (Lc 1, 79).
São Bartolomeu dos Mártires, Arcebispo de Braga escreveu, a partir de pensamentos seletos de São Gregório Magno, no tão atual Stimulus Pastorum: «Ai daquele que ascende às culminâncias do poder, não para abraçar as responsabilidades do seu cargo, mas para satisfação do apetite de honras transitórias! Ai do que aceita ser chefe da milícia cristã, sem ter ainda passado por soldado veterano, isto é, longamente exercitado na mortificação de todas as paixões! O bispo é aurora matinal, quando surge de novo para ser útil, e não para presidir». É um programa que abre à coragem da esperança, como refere Santo Agostinho: «não há nada tão difícil, nem tão penoso, nem tão perigoso como o múnus episcopal».
O cardeal Carlo Martini também aludiu ao grande Bartolomeu: «Tudo o que se refere à autoridade é antes de mais reconduzido para o pastor supremo, de quem os responsáveis são colaboradores. As virtudes indicadas são: disponibilidade, desinteresse, humildade, fazerem-se modelos do rebanho. Aqui está o ponto de partida para aqueles que serão os grandes tratados sobre o exercício da autoridade na Igreja, desde a Regra pastoral de são Gregório Magno aos vários escritos do século XVI, como o Stimulus pastorum de são Bartolomeu dos Mártires, arcebispo de Braga, muito apreciado por são Carlos Borromeu, até ao documento Ecclesiae Imago, Diretório do ministério pastoral dos bispos (1973, depois apresentado com o nome de Apostolorum Successores em 2004)» (pág. 38).
O Papa Francisco refere-se a várias proximidades do bispo. Na proximidade paterna, fraterna, pastoral e amiga, doa-te a todos quantos Deus confia ao teu cuidado: os Presbíteros, os Diáconos, as Pessoas consagradas, os seminaristas, os ministérios laicais, as famílias, os jovens e os mais velhos, os pobres, os doentes, os migrantes, os reclusos, os refugiados e quem mais precisa da compaixão, ternura e misericórdia.
Todos estes valores referenciados ao bispo, servem também para todo o cristão, porque «quando professamos um Cristo sem cruz não somos discípulos do Senhor, somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, Papas, mas não discípulos do Senhor», como observou, em nobre simplicidade, o Papa Francisco.
A voz que grita ao coração impele-nos ao estilo de ser e de fazer sinodalidade num caminho de escuta para a comunhão, participação e missão na vida eclesial. A proximidade na reciprocidade e na circularidade dinâmica entre os pastores e, entre os fiéis e os pastores, requer a inteireza e a liberdade.
Os sinais dos tempos e a alegre presença dos tempos messiânicos convidam a uma mudança de mentalidade e de vida, mediante o Evangelho, «a fim de que, pela paciência e consolação que vêm das Escrituras, tenhamos esperança» (Rm 15, 4).
O bispo é, sobretudo, um servidor do Evangelho da Esperança, pela palavra, pelo testemunho de vida, pelos sacramentos, pelo governo pastoral, que conduzirá a todos à unidade da caridade. Tamanho mistério, onde o ministério é graça, converge no gesto sacramental da imposição das mãos feita só pelos bispos, enquanto todos guardam silêncio e rezam no seu coração para a descida do Espírito supremo. «O Espírito do Senhor é: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, conhecimento e temor de Deus» (Is 11, 2).
X José Manuel Garcia Cordeiro
Arcebispo Metropolita de Braga
Presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade