A Santa Missa
Comentário espiritual da celebração
Autora: Anna Maria Cànopi
Tamanho:148X210mm
N.º de páginas: 120
ISBN 978-989-8877-92-5
1ª edição: julho de 2021
Coleção: Hodie – 5
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A liturgia, embora se realize no tempo e no espaço, transcende-os; ela pertence à ordem sobrenatural; não é uma ação que começa e acaba aqui, mas uma obra que parte da vontade salvífica de Deus, se desenrola no mundo criado e na história humana para se concluir ainda no coração de Deus, estendendo-se assim na eternidade, abraçando a criação inteira.
Apresentação
Nos anos 303-304, o imperador Diocleciano desencadeou uma perseguição por todo o Império, ordenando aos cristãos que entregassem os textos da Escritura e proibindo as celebrações e as reuniões sagradas. Os cristãos de Abitínia, na atual Tunísia, violaram os decretos do imperador ao celebrar ilegalmente a Missa dominical. Presos, defenderam-se dizendo: “Sine dominico non possumus”, ou seja, ‘não podemos viver sem celebrar o dia do Senhor’. Os mártires de Abitínia compreenderam perfeitamente que a Missa é a própria essência do ser cristão e, portanto, não podiam deixar de celebrar a Páscoa semanal.
Na verdade, é o ‘dominicus dies’ que faz o cristão e, por isso, é necessário compreender e viver bem a Missa. Tudo isso foi bem compreendido e vivido por Carlo Acutis, um jovem beato falecido aos 15 anos de leucemia fulminante, que desde criança, apesar de os pais não serem praticantes, nunca deixou de ir à Missa diária, na convicção de que a Eucaristia era – como ele dizia – “a minha autoestrada para o céu”. A mesma experiência tinha sido feita pelo cofundador da comunidade de Taizé, o pastor protestante Max Thurian, que se tornara padre católico para poder celebrar diariamente a Missa, porque a centralidade da celebração da Palavra e do Sacramento tornou-se evidente para ele. Ao longo da história bimilenária da Igreja não há vida de santo que não testemunhe a compreensão profunda da Missa, continuada na vida quotidiana.
«A liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, “se opera o fruto da nossa Redenção”, contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos» (Sacrosanctum Concilium, 2).
A Missa é a fonte, o centro e o ápice da missão da Igreja e de cada vida cristã. Quem participa conscientemente na Missa tem uma experiência vital de oração, de perdão recebido e oferecido, de escuta da Escritura e de verdadeira comunhão com Deus.
Na Missa, a ligação entre Escritura, liturgia e vida é muito profunda e a Madre Cànopi tenta explicá-la antes de tudo às suas monjas, para que a possam apreender e para que possam vivê-la em toda a sua integridade e beleza. De facto, não esqueçamos que, originalmente, essas conferências explicativas eram dirigidas às irmãs do mosteiro Mater Ecclesiae da ilha de San Giulio, como parte do ensino normal que a abadessa de um mosteiro beneditino dirige às suas irmãs. Só mais tarde elas foram reunidas e publicadas em livro, para que todos os cristãos pudessem beneficiar delas.
Nos mosteiros femininos, efetivamente, era um costume bem estabelecido dedicar uma parte da lectio diária à preparação e ao aprofundamento da Missa do dia seguinte. Não só as monjas liam com muito cuidado as Leituras bíblicas, ligando-as ao seu contexto, mas também o Salmo responsorial, a Oração Coleta, a Oração sobre as Oblatas, a Oração depois da Comunhão e os Prefácios dos Tempos fortes, na convicção de que uma preparação cuidadosa ajudaria a colher frutos da Missa de uma forma mais participativa e profunda, correspondendo assim melhor à graça de cada dia, graça totalmente gratuita, que recebemos da misericórdia de Deus sem nenhum mérito próprio e que há de derramar-se na existência vivida para a encher de significado e alegria.
A Madre Cànopi dá-nos um exemplo significativo disso não só com este livro que nos ajuda a compreender e a viver bem a Missa, mas com toda a sua vida doada a Deus, às irmãs e à Igreja. A “sua” Missa, enxertada e continuada na morte e na ressurreição de Cristo, é a demonstração evidente do sacrifício eucarístico celebrado, compreendido e vivido.
O grande mérito de Madre Cànopi é ter explicado neste pequeno livro, de forma clara, simples e atraente, holística e, eu diria, sinfónica, todos os valores e aspectos da Missa, não se limitando aos grandes temas do sacrifício e do banquete, das duas mesas do Pão e da Palavra, que embora fundamentais, verdadeiramente, não esgotam o imenso significado da Missa.
A Madre Cànopi, apresentando-nos com exatidão teológica as várias partes da Missa da sóbria Liturgia Romana, não faz um tratado doutrinal, mas no seu comentário espiritual comunica-nos uma experiência, que é a sua própria experiência, na qual nos convida a entrar, e que ilustra com referências adequadas e contínuas a textos bíblicos, patrísticos e a autores modernos.
Entramos na grande liturgia da Missa com a convocação do sacerdote e a saudação de abertura. Colocamo-nos na posição certa de pecadores e mendigos com o ato penitencial, que é muito importante, mas ao qual o hábito e a frequência das celebrações impedem muitas vezes de prestar a devida atenção.
Aos domingos e dias de festa e nas celebrações especiais, louvamos a Deus com o Glória.
Ouvimos a Palavra de Deus nas leituras bíblicas e na homilia que lhes faz o comentário.
Professamos a nossa fé no Credo e na oração dos fiéis rezamos pela Igreja, pelo mundo e por nós.
No Ofertório, oferecemos a Deus nós próprios e as nossas coisas.
Entramos depois na Oração eucarística com toda a rica série de prefácios e juntamo-nos aos anjos e aos santos da Jerusalém celeste cantando o três vezes Santo.
Assim preparados, entramos finalmente no momento central da Missa que é a oração consecratória do sacerdote, à qual a assembleia responde com o silêncio, a adoração e por fim com a aclamação. A Madre Cànopi comenta o Cânon romano, que lhe era mais familiar, mas todas as outras Orações eucarísticas, introduzidas depois do Concílio, mereceriam um exame minucioso e um comentário espiritual adequado.
A grande doxologia final da oração eucarística, a recitação do Pai Nosso e a troca da paz preparam-nos para receber, sacramentalmente, o Corpo de Cristo.
Com os ritos conclusivos, a bênção e a fórmula de despedida do celebrante, termina a muito simples e grandiosa liturgia da Missa, que vamos continuar a viver nas ocupações e nas relações do dia ou da semana.
A Madre Cànopi também explica a importância de posições e gestos que, junto com ações e palavras sagradas têm, pelo menos na nossa cultura latina, um significado particularmente sugestivo.
Se não apenas ‘ouvimos a Missa’ ou ‘assistimos à Missa’, mas a ‘vivemos’ em profundidade, também nós podemos experimentar a verdade daquelas palavras dos mártires de Abitínia: “Sine dominico non possumus vivere”.
«Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” (1Cor 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do pão eucarístico, ao mesmo tempo é representada e realiza-se a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em Cristo (cf. 1Cor 10,17). Todos os homens são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo, do qual vimos, por quem vivemos e para o qual caminhamos» (Lumen Gentium, 3).
Ir. Maria Augusta Tescari
Mosteiro Trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja
Anna Maria Canopi (1931-2019) licenciou-se em Letras na Universidade Católica de Milão e depois ingressou na abadia beneditina de Viboldone. Em 1973, por ordem do seu Padre espiritual, o Bispo de Novara, Aldo Del Monte, fundou o mosteiro Mater Ecclesiae na ilha de San Giulio no Lago de Orta (na província de Novara-Piemonte), do qual foi abadessa até o ano 2018.
Escritora fecunda e patróloga experiente, publicou vários livros sobre a história do monaquismo e da espiritualidade cristã. Colaborou na edição da Bíblia da Conferência Episcopal Italiana, no Catecismo da Igreja Católica e preparou, a pedido de São João Paulo II, o texto da Via Crucis para o Coliseu em 1993. Exerceu um fecundo ministério espiritual, atraindo muitas vocações para a sua abadia, fundando ou ajudando outros mosteiros e sendo uma referência segura para o monaquismo e para a Igreja em Itália.