Cristo está no meio de nós
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Cristo está no meio de nós

5,00 €
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A Missa explicada

Autor: José Ferreira
Formato: 148X210 mm

144 páginas
ISBN 978-989-8877-42-0
1ª edição – Abril de 2019

«A oração mais pura e mais digna de um filho de Deus é a de acção de graças, aquela em que o homem, ao reconhecer quem é Deus e o que Ele faz por nós, em Jesus Cristo, deixa sair do coração a palavra de reconhecimento e entusiasmo para proclamar a glória do Senhor».

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Apresentação

A vida do senhor Cónego José da Costa Ferreira, também conhecido por padre José Ferreira ou mais familiarmente por padre Zé, cedo começou a orientar-se para aquele que viria a ser o seu mais fecundo campo de trabalho ao serviço da Liturgia em Portugal: a mistagogia da celebração eucarística.

O livro cuja apresentação me foi pedida pelo Secretariado Nacional de Liturgia é uma prova clara da excelente reflexão por ele produzida sobre este tema, para o qual o foram preparando, silenciosa e delicadamente, o Senhor e as pessoas cujos nomes sempre guardou no coração.

Em primeiro lugar os seus pais. Quantas vezes o ouvi contar: «Foi pelos olhos de minha mãe que, antes de nascer, vi o milagre do Sol». E explicava como fizera a sua primeira peregrinação a Fátima, ainda escondido no ventre de sua mãe, Maria da Costa, na peregrinação de 13 de Outubro de 1917, o dia em que o Sol dançou.

Sete meses depois, a 29 de Maio de 1918, em Vargos, nascia o menino, a quem os pais, chegado o tempo oportuno, ensinaram a ler, a escrever e a rezar. Com que ternura o pai era sempre recordado, como aquele que lhe ensinara a pôr as mãos!

Concluídos os anos da escola primária, na sua terra natal, ei-lo a caminho do Seminário Patriarcal de Santarém, onde criou hábitos de estudo e de reflexão à medida que os anos passavam.

A entrada do jovem seminarista no Seminário Maior dos Olivais foi para si um deslumbramento. Principalmente depois de encontrar em Mons. Pereira dos Reis, primeiro Reitor da instituição, o mestre ímpar, o amigo do coração, o pedagogo que chegava no tempo certo. Dele se tornou, desde a primeira hora, o discípulo predilecto, e dele viria a ser o herdeiro mais fiel na sensibilidade e na cultura, e o continuador esclarecido que melhor soube captar e dar seguimento a um pensamento humanista e litúrgico, rico e avançado no tempo.

Quem conheceu o padre José Ferreira bem pode testemunhar a admiração e o afecto inexcedíveis com que, nas suas conversas, sempre se referia a Mons. Pereira dos Reis. O derradeiro testemunho encontramo-lo na dedicatória aos pais e a Monsenhor da colectânea dos seus escritos litúrgicos, onde escreveu estas sentidas palavras: À memória de... Mons. Cón. Dr. José Manuel Pereira dos Reis que me ensinou a contemplar o mistério de Cristo e da Igreja na celebração da liturgia.

E que bom foi, para a liturgia em Portugal, que tal tivesse acontecido. A semente litúrgica, lançada em terra tão fecunda, não tardou a produzir fruto abundante. Acarinhá-la, cultivá-la, celebrá-la, torná-la compreensível a grandes e pequenos, tornou-se uma paixão para o saudoso padre Zé. O que é a liturgia? Quem a celebra? Para quê? Que nos dá ela? Donde lhe vem o valor que a Igreja sempre lhe atribuiu?

O livro que hoje aparece, em feliz iniciativa conjunta do Patriarcado de Lisboa e do Secretariado Nacional de Liturgia, corresponde ao texto da reflexão pessoal, escrita pelo padre José Ferreira, a pedido dos organizadores do Catecismo «Cristo está no meio de nós».[1] É deste livro, rico de espiritualidade litúrgica, que vos vou falar.

Os verdadeiros mestres têm características únicas: são profundos sem serem complexos; são simples sem serem banais; são lógicos sem serem pesados; são poetas sem serem inoperantes. Nas vinte e três reflexões sobre a Missa que constituem o texto deste livro, perpassa uma réstia da sabedoria litúrgica de quem as pensou e escreveu. Fica o convite a saboreá-las.

 

Ritos Iniciais 

Nestas suas primeiras reflexões sobre a Missa, às quais se seguiriam muitas outras, o padre José Ferreira começou, e bem, pelos Ritos Iniciais. Ele conhecia e meditara longamente o texto da Sacrosanctum Concilium onde se diz que desde o dia de Pentecostes «jamais a Igreja deixou de se reunir em assembleia» (SC 6), e gostava também muito da frase com que se inicia o Ordinário da Missa: «Reunido o povo... começa o cântico de entrada».

Participar na assembleia cristã é encontrar-se com o Senhor e com os irmãos, é fazer uso abundante de sinais de festa entre os quais se salienta o canto, apenas e só porque Cristo está no meio de nós. Quando se tomou consciência deste mistério, encontrou-se a grande razão para se amar a assembleia, para não a trocar por nenhuma outra coisa, cada domingo, e para nela tomar parte desde o seu início.

 

Liturgia da Palavra

O padre José Ferreira debruça-se então sobre a importância da palavra quer na vida dos homens quer na liturgia da Missa. Se na vida humana a palavra é o que distingue mais claramente o homem de todos os outros seres vivos, na liturgia Escutar a Palavra de Deus, é escutar o próprio Cristo.

De palavras humanas escolhidas é feito o Símbolo. De palavras que proclamam a fé do meu baptismo. De palavras que exprimem o que de mais importante há para cada cristão: Deus Pai que nos dá vida; Deus Filho que vive no meio de nós; Deus Espírito Santo, alma da Igreja; Igreja santa, católica e apostólica, Corpo de Cristo e Esposa que Jesus ama.

Os momentos de silêncio ajudam a escutar o que se ouviu, cantou ou proclamou, a guardar no coração o que ressoou no exterior. Mas não só. O silêncio faz com que a celebração não seja uma série de coisas atrás umas das outras, sem tempo para as reter e fazer nossas. No silêncio, ouço o Senhor e dou-lhe a minha resposta. O silêncio nas celebrações litúrgicas é como as pausas na música: ajuda a apreciar melhor a arte e a beleza da execução.

 

Liturgia Eucarística

A Liturgia Eucarística é o ponto culminante daquilo que, na época, o padre José Ferreira entendia dever dizer aos catequistas para os quais escrevia, e hoje continua a partilhar com quem o lê, ou seja, que a Eucaristia consiste em renovar a Ceia do Senhor, nos gestos que fez e nas palavras que disse, e no que quis significar com tais gestos e palavras.

Primeiro, no que fez e disse, ao sentar-Se à mesa com os apóstolos, ao mudar o pão no seu Corpo e o vinho no seu Sangue, entregando-lhos em seguida para que se alimentassem d’Ele todas as vezes que repetissem esses gestos e palavras, em sua memória.

Segundo, no que Jesus quis significar com essa Ceia, isto é, que o sentido último e definitivo do mistério do seu Corpo imolado e do seu Sangue derramado, era a salvação de todos os homens e mulheres, do princípio ao fim dos tempos.

O padre José Ferreira voltaria, muitas vezes ainda a este mesmo tema, que era central para ele. À medida que os anos o iam tornando mais sábio, mais convictamente viria a afirmar, que na vida da Igreja, para que algo fosse autenticamente cristão, deveria poder reconduzir-se ao Mistério Pascal de Cristo e à sua luz fulgurante, desde os Sacramentos à simples recitação do Rosário, desde as celebrações do Tríduo Pascal ao toque das Trindades ou ao jejum e abstinência de Sexta-Feira e de Sábado Santo.

É a esta luz que havemos de ver a sequência dos vários capítulos relativos à Liturgia Eucarística: preparo-me para o sacrifício do Senhor, damos graças a Deus, aclamamos o Senhor, invocamos o Espírito Santo, renovamos a Ceia do Senhor, lembramos a Morte e Ressurreição de Jesus e esperamos a sua Vinda, ofereço-me com Jesus ao Pai, unidos a todos os irmãos do Céu e da Terra.

Quantas coisas belas ouvimos a este homem de Deus. E com que convicção as dizia, para nos entusiasmar a contemplá-las à medida que as celebramos ou nelas pensamos.

 

Ritos de Comunhão

Nas reflexões pessoais do padre José Ferreira, o rio de água viva que é o Mistério Pascal de Jesus, está a chegar à foz. Esse rio veio para irrigar e dessedentar. Das fontes da salvação, saciai-vos na alegria. É uma graça sentir essa grande necessidade.

A propósito do «Pai-Nosso» na Missa, ele gostava de recordar que se trata da mais próxima preparação para a comunhão, particularmente por duas das suas súplicas: «o pão nosso de cada dia nos dai hoje», e «perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido». Quem o reza com fé e espera «a Vinda gloriosa de Jesus Cristo nosso Salvador», pode alimentar a esperança de um dia aclamar junto do trono do Cordeiro imolado: «Vosso é o reino e o poder e a glória para sempre».

Muitas das orações depois da comunhão falam do nosso encontro no Céu com o Senhor, ou pedem que saibamos viver na vida aquilo que celebramos na Eucaristia, ou que vivamos unidos uns aos outros. Jesus também assim pediu depois da Ceia: «Que eles sejam todos um, como Tu, Pai, o és em Mim e Eu em Ti…».

 

Ritos de Conclusão

A penúltima palavra da Missa é «Ide em paz e o Senhor vos acompanhe». O que esta expressão significa é que a assembleia chegou ao fim, como soava em latim: «Ite, Missa est». Mas, escreve o padre José Ferreira, «podemos aprofundar um pouco mais o que traz consigo esta partida da assembleia cristã da Eucaristia para a vida de cada dia! Uma das mais antigas descrições da celebração da Eucaristia diz que, no fim da celebração, “cada um se apresse a fazer boas obras”.A celebração da Palavra de Deus e da Eucaristia deve ser para cada um de nós a renovação do nosso baptismo..., da nossa fé em Jesus Cristo, de uma nova entrega à acção do Espírito Santo, que nos torna capazes de dar testemunho, diante dos homens, acerca de Jesus Cristo morto e ressuscitado».

 

Uma última palavra

No livro de Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho, quase no final, há um diálogo entre o herói desse conto magnífico e a raposa. A certa altura diz a raposa ao principezinho: «Vou dizer-te um segredo. Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante para ti».

E eu concluo a apresentação que me propus fazer sobre este mesmo tom: foi o tempo que o padre José Ferreira perdeu com a Liturgia, que tornou a Liturgia tão importante para ele, não a Liturgia feita à medida de cada qual, mas aquela que o Concílio Vaticano definiu assim: «Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo» (SC 7).

Sei que há muitos livros bons sobre a liturgia renovada da Missa. Mas ainda não encontrei nenhum como este. E escrito, como dizia o Cón. José da Costa Ferreira, ao correr da pena, por vezes até sobre o joelho, porque não havia tempo para mais.

 

José de Leão Cordeiro

[1]        «Cristo está no meio de nós», Secretariado Diocesano de Catequese do Patriarcado, 5.ª Edição, 1975. Entre a 3.ª e a 4.ª edição deste Catecismo, os capítulos da Liturgia Eucarística foram totalmente refundidos. É esse o texto que publicamos.