Não está aqui. Foi ressuscitado!
Autor: Ricardo Luís Ramos Martins
Tamanho: 160X230mm
N.º de páginas: 144
ISBN 978-989-9081-14-7
Coleção: Verbum caro – 9
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O mistério da ressurreição de Jesus ocupa um lugar central na fé da Igreja. Diante da impossibilidade de narrar a ressurreição, invisível e indescritível, a história da Páscoa inclui um “lugar vazio”, num momento decisivo. A este espaço aberto e vazio remete, de imediato, a palavra do anjo e das mulheres, como testemunham as narrativas sinópticas.
O primeiro capítulo deste livro, expõe sinteticamente um estudo literário e teológico dos Evangelhos Sinópticos que nos ajudará a ler os textos referentes aos relatos do túmulo vazio nos Sinópticos.
O segundo capítulo está dedicado precisamente aos textos do sepulcro aberto e vazio de Mc 16,1-8; Mt 28,1-10 e Lc 24,1-12. Não se trata de uma análise exegética minuciosa, mas recolhe-se desses textos aquilo que encerram de essencial no seu núcleo mais íntimo.
Suposto o estudo exegético dos textos sobre o túmulo de Jesus, o terceiro capítulo está dedicado à pergunta se estes textos dão alguma resposta às interrogações apresentadas sobre o seu carácter histórico, a sua conexão com a fé na ressurreição de Jesus e o verdadeiro sentido da sua mensagem. Veremos aqui, que papel desempenha o sepulcro vazio e as aparições de Jesus em ordem a um acesso à fé na sua ressurreição.
Ricardo Luís Ramos Martins
(Bragança, 22 de junho de 1996)
Ricardo Luís Ramos Martins nasceu a 22 de junho de 1996, em Bragança.
Frequentou a Escola básica e secundária de Mogadouro. É mestre em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, centro regional de Braga.
Entre 2019-2021 foi vice-diretor da revista Cenáculo.
Apresentação
A Igreja nasce da Páscoa: a Ressurreição de Jesus Cristo. Trata-se do acontecimento central da nossa fé cristã. Assim o afirma S. Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé... Mas não. Cristo ressuscitou dos mortos” (1Cor 15,14.20). Reconhecendo a importância deste facto, a comunidade cristã primitiva foi capaz de olhar a Cristo, com os olhos da fé.
Efetivamente, a celebração do inteiro mistério pascal de Cristo constitui o momento privilegiado do culto cristão, não só no seu desenvolvimento anual, mas quotidiano e semanal. O mistério pascal de Cristo é o princípio basilar de toda a Reforma litúrgica: “A Santa Igreja celebra a memória sagrada da obra da salvação de Cristo, em dias determinados, ao longo do ano. Em cada semana, no dia a que foi dado o nome de 'domingo', comemora a Ressurreição do Senhor, que é celebrada também em cada ano, juntamente com a sua bem-aventurada Paixão, na grande solenidade da Páscoa”[1].
O bom labor de investigação de Ricardo Martins, Não está aqui. Foi ressuscitado! Os relatos do túmulo aberto e vazio nos Evangelhos Sinópticos, apresenta-nos um itinerário exegético-teológico através das narrativas sinóticas acerca do túmulo vazio, tendo em conta o papel que desempenham no mistério pascal e na consequente fé no Ressuscitado.
A tradição evangélica dá-nos conta de que depois de todos os acontecimentos que levaram à trágica morte de Jesus na Cruz, um homem chamado José de Arimateia depositou o seu cadáver num túmulo (cf. Mc 15, 45). Com este desfecho parecia que a história salvífica operada por Deus em Cristo Jesus, se desvanecia no silêncio e na frieza de um sepulcro selado por uma grande pedra. Certamente foi esta a sensação experimentada pelos discípulos: defraudados e resignados retornaram às suas famílias e profissões. Parecia que o fecho do túmulo seria a última notícia acerca de Jesus Cristo.
Porém, na manhã do primeiro dia da semana, umas mulheres dirigem-se ao lugar onde Jesus tinha sido sepultado e encontram o sepulcro aberto e vazio. É um anjo que dá às mulheres a explicação do sepulcro vazio: “Ressuscitou; não está aqui” (Mc 16,6). De imediato o sepulcro aberto e vazio torna-se um sinal material de que a história de Jesus não termina ali.
Do ponto de vista histórico é percetível que pouco depois da morte de Jesus, os seus discípulos se reuniram novamente e proclamaram a ressurreição do Crucificado. Neste sentido, o autor sugere-nos uma questão fundamental do que terá despoletado este novo começo: “algo” tão forte que vença este problema inicial. Certamente, o túmulo vazio é um convite vivo e expresso a abandonar esse lugar e a descobrir a sua presença viva e renovadora: “Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou!” (Lc 24,5).
Por outro lado, o espaço do túmulo vazio é o lugar que expressa a humanidade do Filho de Deus, Verbo encarnado na história e que passou pela morte humana: “O meu corpo descansará na esperança” (Sl 15,9). O sepulcro vazio é este lugar de onde brota a esperança. É um sinal eloquente da ressurreição, porque junto do sepulcro aberto e vazio, a Igreja contempla e espera a vida que nasce da morte do Salvador.
De facto, o fundamento não é que Jesus morreu, mas tendo morrido e tendo sido sepultado, foi ressuscitado! Sabiamente afirma Santo Agostinho: “Não é grande coisa acreditar na morte de Cristo. Também os pagãos creem nela, assim como os Judeus e os que não têm fé. Que Ele morreu todos acreditam; mas a fé do cristão é na ressurreição de Cristo. É este o nosso distintivo fundamental: acreditar que Cristo ressuscitou”[2].
Olhar com fé o sepulcro vazio, significa professar que o crucificado não ficou entre os mortos, mas ressuscitou e abriu à humanidade as portas da vida eterna. Pelo Batismo “os homens são enxertados no mistério pascal de Cristo: mortos com Ele, sepultados com Ele, com Ele ressuscitados, recebem o espírito de adoção filial que 'nos faz clamar: Abbá, Pai' (Rom 8, 15), transformando-se assim nos verdadeiros adoradores que o Pai procura. De igual modo, todas as vezes que comem a Ceia do Senhor, anunciam a sua morte até que Ele venha” (SC 6).
Assim, é nossa missão, é missão da Igreja proclamar para sempre vazio o sepulcro de Cristo, porque “eu sei que o meu redentor vive” (Job 19, 25). Com efeito, “Cristo, nossa Páscoa, que foi imolado. Ele é o Cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo: morrendo destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida”[3].
Verifica-se, hoje, a necessidade de uma pastoral bíblica e litúrgica que parta da mistagogia, acompanhando a comunidade cristã “por ações e palavras” (cf. SC 48), até ao centro do mistério pascal de Cristo. Por isso, ao felicitarmos o autor, desejamos que a leitura desta publicação possa contribuir para este bom propósito.
X José Manuel Garcia Cordeiro
Arcebispo eleito de Braga
Presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade