Sinais Sagrados
Autor: Romano Guardini
Tamanho: 148X210mm
N.º de páginas: 80
ISBN 978-989-8293-98-5
2ª edição: 2017
Colecção: Exsultet – 3
A Liturgia trata de realidades sensíveis que nos desafiam a ver o invisível. Os sinais sagrados remetem, com efeito, para a sacramentalidade da Igreja, tanto nos Sacramentos como nos Sacramentais. A sensibilidade do ver, ouvir, tocar e sentir o bom odor ultrapassa a compreensão intelectual.
O coração da Liturgia pulsa de modo particular nos Sacramentos, que a teologia clássica define como sinais sagrados e eficazes da graça, por realizarem aquilo que significam, razão pela qual alguns autores preferem falar de sinais sagrados ou litúrgicos. A própria Sacrosanctum Concilium, quando descreve a Liturgia, fala de sinais «sensíveis» (n. 7) e «visíveis» (n. 33), através dos quais é significada e realizada a santificação do homem, do modo próprio de cada um deles (cf. n. 7). «Por conseguinte, não é só quando se faz a leitura do que foi escrito para nossa instrução, mas também quando a Igreja reza, canta ou actua que a fé dos presentes é alimentada» (n. 33).
Na verdade, as aquisições que emergiram gradualmente no decurso dos anos, a partir da renovação bíblica, patrística e litúrgica, tiveram influência na maneira de entender o universo dos Sacramentos e Sacramentais, como se adivinha ao ler a Sacrosanctum Concilium: «Os Sacramentais são sinais sagrados pelos quais, de certo modo à imitação dos Sacramentos, se significam realidades sobretudo de ordem espiritual, que se obtêm pela oração da Igreja» (n. 60).
Como pensava o grande pedagogo da teologia e da celebração litúrgica Romano Guardini, e escreveu na primavera de 1927, «é pois necessário, antes de mais, apreender aquele acto vivo, pelo qual o fiel compreende, recebe e executa os santos “sinais sensíveis da graça invisível”. Trata-se em primeiro lugar de “educação litúrgica”, não de ensinamento litúrgico, embora este não se deva separar daquela» (p. 9). A formação litúrgica é, com efeito, de importância primordial.
Contemplando os apoteóticos frescos de Miguel Ângelo que embelezam a Capela Sistina, podemos ver na magnífica cena da criação, o dedo dador de vida de Deus que se alonga e quase toca o dedo estendido de Adão reclinado, como uma imagem da Liturgia que nos toca em seus Mistérios.
A Liturgia, fonte e vértice da vida e da missão da Igreja, realiza sacramentalmente a presença do mistério de Cristo ressuscitado nos sinais sensíveis e visíveis do rito e segundo uma linguagem aberta ao homem e às suas variáveis culturais.
Esta publicação ou breves ensaios, como prefere chamar-lhe o próprio autor (cf. p. 10), ajuda-nos a fazer cada gesto, a olhar cada sinal, a experienciar cada símbolo, a rezar cada oração com maior profundidade e arte, e a percorrer o caminho da compreensão da Liturgia da Igreja de forma mais simples, bela e espiritual.
+ José Manuel Garcia Cordeiro
Bispo de Bragança-Miranda
Presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade
Índice
Apresentação
Prólogo do autor
O Sinal da Cruz
A Mão
Ajoelhar-se
Estar de Pé
O Andar
Bater no Peito
Os Degraus
A Porta
O Círio
A Água Benta
A Chama
A Cinza
O Incenso
Luz e Calor
Pão e Vinho
O Altar
O Linho
O Cálice
A Patena
A Bênção
O Espaço Sagrado
Os Sinos
Tempo Santificado
O Nome de Deus
O SINAL DA CRUZ
Quando fizeres o sinal da cruz, fá-lo bem feito.
Não seja um gesto acanhado e feito à pressa, cujo significado ninguém sabe interpretar. Mas uma cruz verdadeira, lenta e ampla, da testa ao peito, dum ombro ao outro.
Sentes como ela te envolve todo?
Recolhe-te bem. Concentra neste sinal todos os teus pensamentos e todos os teus afectos, à medida que o vais traçando da testa ao peito e dum ombro ao outro. Senti-lo-ás então a penetrar-te todo, corpo e alma. A apoderar-se de ti, a consagrar-te, a santificar-te. Porquê?
É o sinal da totalidade, o sinal da Redenção. Nosso Senhor remiu todos os homens na cruz. Pela cruz santifica o homem todo até à última fibra do seu ser.
Por isso o fazemos antes da oração, para que nos recolha e ponha espiritualmente em ordem; fixe em Deus o nosso pensamento, coração e vontade. Depois da oração, para que permaneça em nós aquilo que Deus nos deu. Nas tentações, para que Deus nos fortaleça. No perigo, para que Ele nos proteja. No acto da bênção, para que a plenitude da vida divina penetre na alma, a torne fecunda e consagre quanto nela há.
Pensa nisto sempre que fazes o sinal da cruz. É o sinal mais santo que existe. Fá-lo bem: devagar, amplo, conscientemente. Envolverá então todo o teu ser, corpo e alma, pensamentos e vontade, sentido e sentimentos, actos e ocupações, e tudo nele ficará robustecido, assinalado, consagrado na força de Cristo, em nome de Deus uno e trino.