Tamanho: 210X297mm (A4)
N.º de páginas: 1 668
ISBN 978-989-9081-07-9
ISMN 979-0-707721-12-4
Pelo ano 2002, o Dr. Mário Oliveira, irmão do padre jesuíta Cristiano Oliveira (professor no Instituto Nun’Alvres e diretor da Escola Profissional do Colégio das Caldinhas, Caldas da Saúde, Santo Tirso), contactou o P. Manuel Morujão, sj, então diretor da Editorial AO, propondo a publicação das composições musicais do P. Manuel Simões. Afirmou que já tinha recolhido cerca de 400 músicas. A resposta do Conselho Editorial da Editora a este projeto foi claramente positiva.
Tendo o P. Sebastião Faria, sj, companheiro próximo do P. Manuel Simões, sj, sido informado deste plano, depois das suas investigações, fez notar que haveria várias outras centenas de músicas do autor que também deveriam ser publicadas. Provavelmente, ultrapassariam o milhar. O P. Sebastião Faria dedicou-se desde então, com competência e esmero, à recolha das referidas composições musicais e promoveu a sua transcrição digital, a partir de partituras nem sempre claras, levando meticulosamente a cabo um trabalho gigantesco.
Na transcrição digital das referidas pautas, trabalhou, desde 2007, Luís Oliveira. Posteriormente, o Secretariado Nacional da Liturgia, sob a direção do P. Pedro Lourenço Ferreira, ocd, assumiu a publicação desta obra, cabendo a Delfim Machado a responsabilidade pela paginação da mesma.
Em 2018, o escolástico jesuíta Diogo Couceiro Roda, tendo em conta os seus estudos no campo da música, passou a colaborar ativamente neste projeto apostólico, revendo todo o trabalho até então realizado.
Estando o trabalho de recolha e transcrição das composições musicais do P. Manuel Simões, sj já muito adiantado, em 2020 foi possível concretizar a presente obra, editada pelo Secretariado Nacional da Liturgia, com a colaboração da Editorial AO, constituindo-se uma equipa que definiu a metodologia a adotar na publicação da obra que o leitor agora tem em mãos.
(1924-1995)
O P. Manuel Simões nasceu na freguesia de Pousaflores, concelho de Ansião, a 10 de novembro de 1924. Entrou na Companhia de Jesus, na Costa (Guimarães) a 7 de setembro de 1942. Depois de concluído o Noviciado e o tempo dedicado aos estudos de Humanidades, licenciou-se na Pontifícia Faculdade de Filosofia de Braga, em 1950. Estudou Teologia em Granada (Espanha), aí tendo sido ordenado sacerdote a 15 de julho de 1956. Regressando a Portugal, depois de completada a sua formação como jesuíta, lecionou no Colégio de S. João de Brito (Lisboa) e no instituto Nun’Álvres, em Caldas da Saúde, Santo Tirso, matérias ligadas à Língua e Literatura Portuguesas. Desde setembro de 1982, fez parte do Corpo Docente da Faculdade de Filosofia de Braga da Universidade Católica Portuguesa. Encarregado de Curso, na Área das Humanidades, foi titular da disciplina de Cultura Portuguesa até 1995.
Homem de cultura, especializado em Cultura Portuguesa, o P. Manuel Simões era um devotado camiliano. A ele se deve, em grande parte, o prestígio da Casa de Camilo, de que foi Diretor desde 1982 até à sua morte, e o relançamento do respetivo Boletim, onde saíram estudos notáveis, dele e de outros, sobre o grande Escritor. Diretor cultural e Bibliotecário da Fundação Cupertino de Miranda, fundou o Centro de Estudos Camilianos, cuja camiliana é, certamente, das mais completas e funcionais, para estudo e consulta bibliográfica. Talvez encontrasse em Camilo um parceiro de fundura e garra, que o consolava da outra literatura que, por tendência quase obsessiva e dever de ofício, lia e devorava. O último texto que escreveu sobre o grande escritor, “Pura Marginalidade Transgressora”, destinou-o à cerimónia de entrega do Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco de 1994 e foi publicado no Semanário Regional, “Opinião Pública”, de Famalicão, em 26 de novembro do mesmo ano.
A par de uma fecunda carreira de docente, o P. Manuel Simões nunca deixou de colaborar em actividades pastorais e litúrgicas não só nos estabelecimentos de ensino por onde passou, mas também como membro da Comissão Bracarense de Pastoral Litúrgica e, mais tarde, como director do Secretariado Nacional de Liturgia, entre 07-07-1973 e 18-08-1974 e, por determinação do Episcopado, tradutor e revisor dos textos litúrgicos. Como compositor musical, artista e pedagogo, foi também vogal do Serviço Nacional de Música Sacra e membro da equipa da Nova Revista de Música Sacra. Publicou dois volumes de Salmos e Cânticos e muitas composições musicais dispersas. Deixou inédita, até ao momento, uma longa coletânea de melodias tradicionais, portuguesas e estrangeiras, harmonizadas para três e quatro vozes iguais. Seria longo enumerar o estímulo que despendeu nas associações corais, em paróquias e grupos. Era Diretor do Orfeão Famalicense e da Associação de Coros Paroquiais de Vila Nova de Famalicão. Muito lhe ficará a dever a música litúrgica no nosso país. Soube antecipar-se e acompanhar o Concílio Vaticano II, aproximando, com fina sensibilidade, a devoção religiosa da qualidade e beleza da música inspirada.
Ensaísta, publicou na editorial do Apostolado da Oração, Braga, os seguintes volumes: Elucidário espiritual (1993), Em espírito e verdade (1990), Liturgia e vida (1988), Livro de orações, coligidas dos escritores portugueses, em 1957. Dirigia a coleção «Deus escondido» da mesma editorial, de que saíram 10 volumes, com proficiência e originalidade, escolhendo, traduzindo e dispondo ritmicamente textos de grandes «espirituais» não canonizados. A Magnificat e o Mensageiro do Sagrado Coração de Jesus viram as suas páginas enriquecidas com os escritos, sempre claros e saborosos, do P. Manuel Simões. Nesta última revista, manteve até fevereiro de 1995, uma secção intitulada «Livros e Autores». Postumamente, em 1998, nas edições da Faculdade de Filosofia de Braga, veio à luz Temas de arte e cultura, livro que reúne muitos dos seus artigos, de índole universitária, publicados em várias revistas, nomeadamente na Brotéria, de que foi assíduo colaborador.
A poesia que cultivou, em palavra escrita, permanece nos cinco livros, todos editados em Braga: Canções da vida breve (1958): A Flor do tempo (1962); Diálogo com a esfinge (1973); Amor situado (1974) e As raízes da noite (1976). Pensava coligi-la toda num só volume. Os seus versos, para além de recorte musical e de cuidada elaboração métrica, evidenciam a nostalgia da infância, o pudor de alguma ferida secreta, sem romantismos, mas onde, quase sempre, transparece uma certa altíssima tristeza, que seria, talvez, a «saudade futura», de que fala um dos poemas. Era por demasia sóbrio de lirismo fácil, e a comprová-lo, o dístico que escreveu no poema «Velho do Restelo», de As raízes da noite: «Partiremos amanhã, / sem adeus nem lamento!».
Foi assim, sem retórica nenhuma, que o Senhor veio chamá-lo, na noite de 9 de fevereiro de 1995. A doença grave ia ostensivamente declarando-se. Estava internado, após uma intervenção cirúrgica, muito enfraquecido, esperando, em paz, a hora do encontro com o Pai, a quem sempre servira. Que a sua passagem pelo nosso convívio perdure, no coração da Santíssima Trindade, para todo o sempre.
Gostaria de concluir esta minha «canção da vida breve», que dedico à sua memória, com palavras dele, que pretendo agora aplicar-lhe. Na Brotéria, no artigo «Alexandre O’Neill, um poeta vivo», em dezembro de 1986, o P. Manuel Simões terminava deste modo a sua sentida evocação de Alexandre O’Neill que falecera recentemente:
Como remate, escolhemos a última das «sentenças delirantes dum poeta para si próprio em tempo de cabeças pensantes»:
«– Um escritor deve mostrar sempre a língua portuguesa».
Foi o que ele fez com verdade e malícia!
Por isso lhe estamos gratos. Mas sobretudo por nos ter transmitido, pela voz «contrafeita» da poesia, o mistério de estar vivo connosco.
Mário Garcia, sj