Os Mistérios de Cristo na Liturgia
Autor: José Ferreira
Tamanho: 160X230mm
N.º de páginas: 448
ISBN 978-989-8877-26-0
2ª edição: Setembro 2018 (Revista e aumentada)
Uma bela e oportuna colectânea
Com estas linhas associo-me convictamente à presente edição de textos do Cónego José Ferreira.
Convictamente, pois com ele me convenci da beleza e da qualidade do “movimento litúrgico” que, do século XIX para o XX, nos foi trazendo a notícia e a realidade da celebração cristã mais autêntica e em torno do seu núcleo central: a Páscoa do Senhor.
Guardo da infância a melhor recordação de celebrações e ritos, como eram então. Ainda criança, aprendi a “ajudar à Missa”, numa linguagem que não era a minha, mas podia pressentir. Na adolescência e na juventude fui acolhendo com entusiasmo as decisões do Concílio e a reforma litúrgica subsequente, numa comunidade paroquial que a acolhia também.
Mas foi preciso chegar ao Seminário e conhecer o Cónego José Ferreira para aprender o que acontecera e como acontecera felizmente assim. José Ferreira fora discípulo muito próximo e atento de Monsenhor Pereira dos Reis, figura cimeira do movimento litúrgico em Portugal. Pereira dos Reis estudara Teologia em Coimbra e interessou-se pelo movimento litúrgico que então singrava em mosteiros da Alemanha, da França e da Bélgica. Pároco em Lisboa (Anjos), sentia e reflectia a necessidade duma celebração mais autêntica, formativa e participada por fiéis realmente iniciados.
Desde 1931 foi reitor do Seminário dos Olivais. Com ele, com suas aulas e o seu convívio, muitos seminaristas dos anos trinta e quarenta ganharam o gosto e o sentido da Liturgia, nas melhores fontes e no mais correcto exercício. José Ferreira foi um deles, sucedendo-lhe depois no mesmo magistério. No final dos anos sessenta teve ainda oportunidade de estudar em Paris com alguns dos inspiradores da reforma litúrgica do Concílio.
Por tudo isto e pela sua maneira entusiasmada e comunicativa de partilhar quanto aprendera, foi um elo determinante da tradição dos Olivais nos anos setenta, quando quase tudo se teve de retomar do princípio. Ensinou-nos a celebrar e a cantar segundo os novos rituais, desvendando-nos o porquê do que se redescobrira e relançara com o movimento litúrgico. Pacientemente, convincentemente.
Não se ficava pelo ensino no Seminário e na Faculdade. Desdobrava-se em encontros e palestras pela Diocese e para além dela. Colaborava constantemente com o Secretariado Nacional de Liturgia nos encontros a nível nacional. Os milhares de pessoas que passaram pelas semanas litúrgicas em Fátima ficaram marcados pelo seu ensino e entusiasmo.
Os textos desta colectânea são exemplo e transmissão disso mesmo. Sublinho um ponto nuclear: a unidade de toda a Liturgia em torno do mistério pascal de Cristo, comunitariamente celebrado. Creio ter sido o fulcro do movimento litúrgico e da reforma conciliar neste campo e lembro-me bem de que era esta a permanente insistência de José Ferreira no seu ensino.
Não se trata duma novidade absoluta, claro está, uma vez que todo o culto cristão se desenvolveu a partir daí e em sua função. Mas quem tenha nascido na primeira metade do século passado lembrar-se-á também que tal não era assim tão evidente, nem no calendário nem nos espaços litúrgicos. O santoral e outros motivos quase encobriam o Domingo e os templos subdividiam-se de altar em altar e de imagem em imagem, diluindo o que devia ser verdadeiramente central na atenção e na celebração.
Este livro provém de várias fontes e circunstâncias. Mas será fácil perceber-lhe o sentido comum. José Ferreira elucidou-o num dos textos aqui coligidos, frisando o verdadeiro âmbito e o motivo essencial de quanto a Igreja celebra: «A celebração litúrgica é o momento em que a Igreja acolhe a liturgia celeste e nela participa, porque não somos nós que criamos a vida pascal; é a vida pascal de Cristo que nos atinge e nos arrasta em si, como na torrente do rio da vida que jorra do trono de Deus e do Cordeiro (Ap 22, 1). Corpo de Cristo como é, animada pelo Espírito que ela recebeu no Pentecostes, é como tal que a Igreja celebra o mistério pascal. Assim, as diversas celebrações da liturgia são necessariamente celebrações eclesiais» (O mistério pascal no tempo da Igreja, p. 343).
No ano centenário do seu nascimento, agradeço ao Cónego José Ferreira o seu feliz ensino, de tão permanente actualidade. Participando agora da liturgia celeste, continua connosco nestes textos cheios de vida pascal.
+ Manuel Clemente
Cardeal Patriarca de Lisboa
Índice
Uma bela e oportuna colectânea
Grata memória
Páscoa, uma nova criação
Uma Igreja orante
Celebração litúrgica e participação
A Páscoa e a sua celebração
Espiritualidade Pascal
Possíveis elementos para a celebração das festas
“A Missa ou Ceia do Senhor”
A Liturgia Eucarística da Missa
Os Ministérios na liturgia
A Iniciação Cristã, na tradição da Igreja
Estrutura e celebração da Liturgia das Horas
A Vigília Pascal
A liturgia antes do Concílio Vaticano II
O Tempo Pascal na Tradição da Igreja
Dimensão Baptismal da Quaresma
A Palavra e o Rito
Estruturas da liturgia e religiosidade popular
A celebração litúrgica do Natal do Senhor
O Mistério da Páscoa e a sua celebração
O rito da Dedicação da Igreja e do Altar
“Natal na Praça”
Das cinzas da morte ao fogo do Espírito
As Ordenações
Para quê uma igreja?
Santa Maria na liturgia da Igreja
Um tempo marial
O que a Liturgia pede à Música
O Mistério Pascal no Tempo da Igreja
A Eucaristia, Oração de bênção por excelência
O Espírito Santo, alma da Liturgia
OS Ritos Iniciais da Missa
A Liturgia da Palavra
A Homilia, o Credo e a Oração universal
A Liturgia Eucarística