Leitura Orante da Palavra – Lectio Divina Ferial
Autor: Manuel José Marques
Tamanho:110X170mm
Págs: 1824
ISBN 978-989-8877-67-3
1ª edição: junho de 2020
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Lectio Divina Ferial para todos os Tempos Litúrgicos: Advento, Natal, Quaresma, Tríduo Pascal, Tempo Pascal e Tempo Comum. Inclui também propostas para o Santoral e em “Apêndice”, apresenta de modo mais desenvolvido, a Lectio Divina da parábola do Pai Misericordioso.
Livro em capa dura, revestido a tela que imita o couro e confere um toque suave.
Impresso a duas cores (preto e vermelho) em papel bíblia de 30g.
A lombada é redonda e tem duas fitas de registo.
A apresentação de cada Lectio Divina, inicia pela apresentação do texto litúrgico da Primeira Leitura, para os anos pares e ímpares, depois desenvolve o encontro com a Palavra de Deus em quatro momentos: “Compreender a Palavra”; “Meditar a Palavra”; “Rezar a Palavra” e “Compromisso com a Palavra”. O Evangelho é apresentado de seguida e segue o mesmo itinerário proposto para a Primeira Leitura dos Anos Pares e Ímpares. No Santoral, o autor inicia a proposta de cada Lectio, com uma breve síntese biográfica do Santo, Santa ou Santos a celebrar, e quando necessário apresenta com brevidade o contexto litúrgico/pastoral da celebração.
Apresentação
Percorrendo os Evangelhos, só uma vez nos encontramos com Jesus a ler as escrituras na Sinagoga de Nazaré. Fá-lo, no meio dos seus irmãos reunidos em oração no dia de sábado. Jesus lê a profecia de Isaías (Is 61, 1-2) e comenta-a (cf. Lc 4, 16.21). Esta descrição é um ícone, que nos apresenta «Jesus, a Palavra, que lê as escrituras».
No Evangelho de Lucas, Jesus inicia o seu ministério de anúncio da chegada do Reino de Deus, com este ritual próprio do cumprimento das promessas messiânicas e do “Kairos” de Deus: «cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.» (Lc, 4, 21), porém «Ele celebra o início do seu ministério numa sinagoga, e não no templo, oferecendo um sacrifício. (…) Desde o Batismo no Jordão, onde o Espírito Santo desceu sobre Ele (Lc 3, 22), esta epiclese do Espírito acompanha sempre a leitura das Escrituras e inspira a sua interpretação.»[1] Deste modo messiânico, iniciou-se a apresentação de Jesus aos seus compatriotas, como um profeta, perante o qual, «estavam todos com os olhos fixos n’Ele» (Lc 4, 20) e «todos davam testemunho a seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca. Diziam: Não é este o filho de José?» (Lc 4, 22).
Durante a sua missão, anunciou oralmente a Boa Nova da salvação. A sua palavra ficou de tal modo gravada no coração e na vida dos seus discípulos, que os encontramos, não centrados no Livro, mas numa pessoa, Jesus Cristo. Depois de terem acolhido a mensagem oral, durante a “primeira geração cristã”, foram os discípulos da “segunda geração” que registaram por escrito as palavras e os factos da vida de Jesus, para permanecerem na fidelidade à Sua Palavra de Salvação.
A Obra Leitura Orante da Palavra – Lectio Divina Ferial, da autoria de Manuel José Marques e edição do Secretariado Nacional de Liturgia (SNL), que apresento, tem uma génese que nos leva até às Comunidades da Igreja Apostólica e traz até nós, geração do Século XXI, a autenticidade da beleza gloriosa e sempre jovem do rosto salvador de Cristo, o belo e bom Pastor. É que as propostas apresentadas neste Livro, a fim de nos ajudar a orar a Palavra de Deus, pelo método da Lectio Divina, não partem de um estudo predominantemente com preocupações académicas e assente numa exegese rigorosamente histórico-crítica dos textos Bíblicos, desencarnada da vida quotidiana do nosso tempo. As propostas apresentadas por Manuel José Marques, sem prescindir do rigor exegético não enfermam da pobreza que advém, quando não são experimentadas e testadas pelo Povo de Deus. Como nas primeiras comunidades, estas propostas nasceram da necessidade das muitas comunidades pastoreadas pelo autor, quer na cidade de Reguengos de Monsaraz, quer nas aldeias do concelho. Inspirando-me no Papa Francisco, diria que são sugestões em que o autor exprime o cheiro das ovelhas que leva consigo como pastor, e com elas reparte o odor e o sabor de Cristo por ele experimentados, para que se saciem nas «fontes das águas vivas» (Jr 17, 13).
Depois da experiência de sete anos, como único Presbítero ao serviço desta Unidade Pastoral, em 2008, o Padre Manuel José Marques, também Professor de Teologia no Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTE), assumiu uma metodologia sinodal de diálogo, reflexão e avaliação com o Povo de Deus confiado ao seu ministério. Assim, no ano seguinte, em 2009, com um Diácono Permanente e cinquenta leigos, iniciou com essa finalidade, uma série de Assembleias Pastorais, que se continuam a realizar. Essas Assembleias Pastorais produziram planos e agendas pastorais, a fim de dinamizar a pastoral da Unidade, atualmente composta por seis paróquias, e quinze comunidades celebrantes.
Na segunda Assembleia Pastoral, o tema discernido, sugeria «pôr a Mesa da Palavra no meio da rua para que todos os famintos possam saciar-se gratuitamente». Para concretizar esta primordial, mas exigente proposta, surgiu a ideia de oferecer a Lectio Divina diariamente, a partir do Evangelho da Eucaristia e enviar por email para todos os leigos presentes na Assembleia e eles reenviarem, também por email, a quem entendessem, e simultaneamente entregar aos vizinhos porta a porta.
No início, o autor propôs a Lectio Divina só a partir do Evangelho de segunda a sexta-feira. Passados dois anos, decidiu-se comunitariamente incluir também a Primeira Leitura e posteriormente, distendê-la também aos sábados.
O conhecido e conceituado liturgista, Padre José de Leão Cordeiro, ao tomar conhecimento desta iniciativa, sugeriu que fosse colocado no sítio do SNL e posteriormente sugeria insistentemente a sua publicação, a que o autor resistiu durante dez anos, pois a iniciativa soma 11 anos de fiel perseverança a uma decisão sinodal de evangelização, em terras do Alentejo real.
Pretendia-se formar na Palavra de Deus os cristãos mais responsáveis, os orientadores das celebrações dominicais na ausência do Presbítero, os catequistas e posteriormente fazia-se chegar a todas as pessoas da Unidade Pastoral de Reguengos de Monsaraz; mas eis que se tornou um património de todos! Eu próprio, quando pároco em paróquias da Arquidiocese de Évora e depois como Bispo Auxiliar de Braga, e ainda hoje, recebo diariamente esta Lectio Divina, enviada por vários amigos desde longa data e de várias localidades pertencentes a diversas dioceses.
A obra que em feliz iniciativa, o autor e o SNL decidiram publicar, em 1824 páginas, apresenta a Lectio Divina Ferial para todos os Tempos Litúrgicos: Advento, Natal, Quaresma, Tríduo Pascal, Tempo Pascal e Tempo Comum. Inclui também propostas para o Santoral e em “Apêndice”, apresenta de modo mais desenvolvido, a Lectio Divina a partir da parábola do Pai Misericordioso.
A obra oferece também três índices muito úteis e práticos. Índice das Leituras, índice do Tempo Litúrgico e índice Santoral. Para ajudar os leitores a introduzirem-se nesta oportuna e utilíssima publicação, são apresentados o Calendário Romano Geral, a Tabela Temporária das Celebrações Móveis, e as Abreviaturas dos Livros Bíblicos.
A apresentação de cada Lectio Divina, inicia pela apresentação do texto litúrgico da Primeira Leitura, para os anos pares e ímpares, depois desenvolve o encontro com a Palavra de Deus em quatro momentos: “Compreender a Palavra”; “Meditar a Palavra”; “Rezar a Palavra” e “Compromisso com a Palavra”. O Evangelho é apresentado de seguida e segue o mesmo itinerário proposto para a Primeira Leitura dos Anos Pares e Ímpares. No Santoral, o autor inicia a proposta de cada Lectio, com uma breve síntese biográfica do Santo, Santa ou Santos a celebrar, e quando necessário apresenta com brevidade o contexto litúrgico/pastoral da celebração.
Saúdo com apreço e admiração o Padre Manuel José Marques, pela sua fidelidade ao compromisso assumido com o Povo de Deus, que resultou neste extraordinário contributo para a evangelização e para a espiritualidade cristãs. Trata-se de um esforço com grande alcance e mérito, que eu como seu contemporâneo de Seminário, colega de presbitério e de docência no ISTE e agora Bispo da Igreja em Évora, muito agradeço e louvo.
Obrigado ao SNL por mais este serviço a todos os que rezamos em língua portuguesa.
Para os leitores, lembro com um texto da Collectanea cisterciensia 27,48 (in Goffredo Boselli, op. Cit. pág. 75), que neste livro nos podemos encontrar com o “Hoje” de Cristo, «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura» (Lc 4, 21), pois a Lectio Divina leva-nos sempre ao encontro com Ele.
«O Filho de Deus é um livro de cores intensas. Este livro precioso nunca está fechado, as suas páginas não amarelecem com o tempo. É mais legível de noite do que de dia. É um livro de imenso valor, um livro de grande pureza; um livro para cada ocasião, para ler e confiar ao coração».
Évora, 25 de março de 2020
Solenidade da Anunciação do Senhor
+ Francisco José Villas-Boas Senra de Faria Coelho
Arcebispo de Évora
Gratidão
Como um pai de família reparte o pão pelos filhos também eu quis repartir a Palavra, alimento espiritual, por todos aqueles de quem sou servidor no ministério sacerdotal. O pai de família, sabendo o bem que o pão significa, costumava beijar o pão antes de o repartir, num gesto de respeito e reverência, mas também como quem reza pedindo que aquele pão, tão pequeno, se multiplique para saciar a fome dos muitos filhos. Foi com o olhar, procurando os mais pequenos sinais, que beijei dia após dia a Palavra de Deus, em reverência e respeito, mas também numa prece constante, que era o desejo de que ela chegasse ao coração de muitos. Como o pai de família senti a grandeza da Palavra, dom de Deus para o homem, e a preocupação pelos filhos famintos que, se não fosse eu, não teriam quem lhes repartisse o alimento da vida eterna, a Palavra da Vida.
Hoje, a Palavra aparece em forma de Lectio Divina, nascida da simplicidade de quem procura servir os humildes e não os sábios, de quem quer alimentar a todos e não apenas alguns, de quem se preocupa em despertar o coração e não a curiosidade.
Agradeço às comunidades da Unidade Pastoral de Reguengos, que sirvo há 23 anos, pela paciência, perseverança e colaboração, em especial ao meu amigo e colaborador, o Diácono Domingos Barão, aos responsáveis das comunidades, movimentos e Grupos que participaram nas Assembleias Pastorais e aos muitos Orientadores das Celebrações Dominicais na Ausência do Presbítero que incansavelmente têm proporcionado a celebração do Domingo em todas as Comunidades, todos os domingos.
Agradeço ao Padre José de Leão Cordeiro que não desistiu da ideia de publicar estas minhas reflexões diárias. Agradeço ao Secretariado Nacional de Liturgia por ter aceite fazer esta publicação, particularmente ao Delfim que fez o trabalho mais difícil.
Por fim agradeço ao senhor arcebispo D. Francisco Senra Coelho pelas palavras de abertura e pela sua amizade. Nele agradeço a todos os bispos da diocese de Évora que me acompanharam ao longo da vida.
Louvo a Deus que me inspirou, dia após dia, neste caminho de onze anos de meditação da sua Palavra.
A todos os que se servirem deste livro peço a maior compreensão para as muitas falhas que nele também vão encontrar. Que elas não se tornem impedimento para fazer o caminho.
Dedico este trabalho aos meus pais Joaquim e Deolinda, aos meus irmãos Dores, Tucha, Lurdes e Tó Zé e a todos os meus sobrinhos.
Manuel José Marques
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[1] Cf. Goffredo Bosselli , in O Sentido Espiritual da Liturgia, SNL 2019, pág. 74.
Esquema
Evangelho Lc 6, 36-38
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á: deitar-vos-ão no regaço uma boa medida, calcada, sacudida, a transbordar. A medida que usardes com os outros será usada também convosco».
compreender a palavra
Jesus adverte os seus discípulos para uma disciplina de vida. Quem quiser identificar-se com o coração do Pai tem que ser misericordioso como Ele. O hábito da crítica condenatória não destrói apenas o outro, mas volta-se contra nós, porque receberemos na medida do que dermos aos outros. Por isso, Jesus aconselha a ser misericordioso, a perdoar e a repartir, se queremos ser tratados com benevolência.
meditar a palavra
“A mesma medida”, diz Jesus aos seus discípulos. A consciência de que recebo na medida em que dou e a partir daquilo que dou. Gasto a minha vida com críticas, julgamentos, condenações, receberei críticas, julgamentos e condenações. Gasto a minha vida a perdoar e a repartir, receberei perdão e verei as minhas mãos encherem-se de dádivas. Cem vezes mais promete Jesus e cem vezes mais posso eu experimentar na realidade.
rezar a palavra
Não me julgues, Senhor, pelos meus pecados. Não recordes as minhas faltas. Na minha miséria vem em meu auxílio com a tua misericórdia e salva-me perdoando os meus pecados. Que eu possa estar na tua presença com tranquilidade de coração e encontrar em ti acolhimento e aprender de ti que és manso e humilde de coração, sempre pronto a compadecer-te de mim.
compromisso
Hoje, quero experimentar a grandeza da misericórdia usando de misericórdia para com os irmãos que me tornam a vida mais difícil.