O rosto inacabado
Aproximações ao Rosto de Cristo e do Homem
Autor: Mário Rui de Oliveira
Tamanho: 160X230mm
N.º de páginas: 120
ISBN 978-989-9081-40-6
Coleção: Verbum caro – 11
1.ª edição: agosto de 2022
Excerto e Índice »
Monsenhor Mário Rui de Oliveira oferece-nos este belo texto espiritual, proposto no âmbito de uma experiência de retiro.
Fazer retiro é como preparar-se para um grande encontro. Na verdade, retiramo-nos só para estarmos mais seguros de contemplar o rosto de Deus e de sermos contemplados por Ele.
Nesta busca incessante: «o cristianismo, religião dos rostos, é um contínuo reenvio ao Rosto dos rostos, ao Arquétipo de todos os ícones, para decifrar na sua beleza o enigma do semblante em construção de cada homem e mulher. O ícone do Rosto de Jesus é o lugar epifânico por excelência e o seu olhar revela a nossa natureza e o nosso destino: Deus, com efeito, fez-se homem, para que o homem se torne Deus».
Além das presenças reais na Bíblia, na Eucaristia e em tantos rostos inacabados, o texto de Mário Rui de Oliveira conduz-nos ao monte Tabor, o lugar da transfiguração do rosto de Jesus. Uma transfiguração de luz e de alegria, que antecipa a transfiguração de dor na noite escura do horto das oliveiras. Nesta aparente diferença está sempre o mesmo Jesus Cristo, próximo e obediente ao Pai. O seu rosto fica brilhante como o Sol. Ele que é o Sol da Justiça. As suas vestes brancas como a luz.
Apresentação
Com alegria e esperança felicitamos a nova publicação do estimado Mons. Mário Rui de Oliveira sob o interpelador rótulo: O rosto inacabado. Aproximações ao Rosto de Cristo e do Homem.
Em tempo de ação de graças no vigésimo quinto aniversário da ordenação presbiteral, recebido no presbitério da Igreja bracarense e agora ao serviço da Igreja universal, Mário Rui de Oliveira oferece este tão belo texto espiritual, proposto no âmbito de uma experiência de retiro.
Fazer retiro é como preparar-se para um grande encontro. Na verdade, retiramo-nos só para estarmos mais seguros de contemplar o rosto de Deus e de sermos contemplados por Ele.
Nesta busca incessante: «o cristianismo, religião dos rostos, é um contínuo reenvio ao Rosto dos rostos, ao Arquétipo de todos os ícones, para decifrar na sua beleza o enigma do semblante em construção de cada homem e mulher. O ícone do Rosto de Jesus é o lugar epifânico por excelência e o seu olhar revela a nossa natureza e o nosso destino: Deus, com efeito, fez-se homem, para que o homem se torne Deus» (pág. 113).
Todo o homem é “imagem”, “ícone” visível de Deus, que o criou gratuitamente.
Jesus Cristo, “imagem de Deus”, ao identificar-se com os homens, assume a natureza humana e partilha a vida dos homens, faz de cada um seu sinal privilegiado. É que «na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente» (Gaudium et Spes 22).
É eloquente o que São Paulo VI profere ao discursar no encerramento do quarto período conciliar, a 9.ª sessão solene, a 7 de dezembro de 1965, quando diz que o Concílio se declara todo a favor do homem e que para conhecer o homem verdadeiro e integral é preciso conhecer Deus. Como prova, cita Santa Catarina de Sena: «Na tua natureza, ó Deus eterno, conhecerei a minha natureza». E acrescenta mais adiante, que para conhecer a Deus, é necessário também conhecer o homem.
O coração procura o rosto divino: «a vossa face, Senhor, eu procuro: não escondais de mim o vosso rosto» (Sl 26, 8-9), simultaneamente, procura o rosto humano: «deixa-me ver o teu rosto, deixa-me ouvir a tua voz, pois a tua voz é doce e o teu rosto, encantador» (Ct 2, 14).
Com efeito, «qualquer que tenha sido o rosto humano do Senhor Jesus, Ele é único, e, no entanto, cada um o imagina segundo a sua fantasia e todos de maneira muito diferentes...» (Santo Agostinho).
O ícone é um sinal sacramental da Igreja e está intimamente ligado à Liturgia. Assim, o Catecismo da Igreja Católica sintetiza a essencialidade da teologia dos ícones: «A imagem sagrada, o “ícone” litúrgico, representa principalmente Cristo. Não pode representar o Deus invisível e incompreensível: foi a Encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova “economia” das imagens: “Outrora Deus, que não tem nem corpo nem figura, não podia de modo algum, ser representado por uma imagem. Mas agora, que Ele se fez ver na carne e viveu no meio dos homens, eu posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus [...] Contemplamos a glória do Senhor com o rosto descoberto”» (CIC 1159).
O evento salvífico, qual admirável permuta entre Deus e o homem, exprime a relação direta com o mistério da encarnação de Cristo, Deus e homem, neste admirável comércio ou permuta, pelo qual Deus comunica a sua divindade em troca da nossa humanidade.
A sacramentalidade apresenta, assim, a revelação de Deus através da celebração dos sinais sagrados na ação litúrgica, dado que toda a celebração litúrgica é um único mistério da aliança, compreendendo já o magnificum commercium do mistério da encarnação todo ele orientado para a redenção, realizada no mistério da Páscoa.
Além das presenças reais na Bíblia, na Eucaristia e em tantos rostos inacabados, o texto de Mário Rui de Oliveira conduz-nos ao monte Tabor, o lugar da transfiguração do rosto de Jesus. Uma transfiguração de luz e de alegria, que antecipa a transfiguração de dor na noite escura do horto das oliveiras. Nesta aparente diferença está sempre o mesmo Jesus Cristo, próximo e obediente ao Pai. O seu rosto fica brilhante como o Sol. Ele que é o Sol da Justiça. As suas vestes brancas como a luz.
Tudo o que podemos ambicionar está revelado no rosto do Filho amado que o Pai nos apresenta, e nos desafia a escutar. Visão e audição são sentidos obrigatórios na busca de Deus. Em todo o Antigo Testamento se repete um desejo, o de ver o rosto de Deus. Agora, no momento do monte Tabor, os discípulos veem o rosto de Deus no rosto humano de Jesus transfigurado na luz.
A perícope da transfiguração está no centro do Evangelho em todos os Sinópticos. A Transfiguração do Senhor é a manifestação antecipada do Ressuscitado e aponta para a beleza futura da Igreja.
Deus entrou no tempo e carregou-o de eternidade. «O céu baixando, vem e faz-se terra; quando é que a terra se elevará e se fará céu?» (A. Silesius).
A Transfiguração é uma escolha feita pelo Senhor para mostrar o seu rosto de glória, depois de ter mostrado, através da profecia da paixão, o rosto do sofrimento: «depois de anunciar aos discípulos a sua morte, manifestou-lhes no monte santo o esplendor da sua glória, para mostrar, com o testemunho da Lei e dos Profetas, que pela sua paixão alcançaria a glória da ressurreição» (Missal Romano).
A Transfiguração é um acontecimento de oração, que torna visível a Jesus Cristo, Luz de Deus. A limpidez do rosto de Jesus impele-nos ao encontro com todos os rostos, especialmente os rostos humanos ignorados e periféricos.
«Mas só conseguiremos reconhecer o próprio Jesus no rosto dos pobres se o seu rosto se tiver tornado familiar para nós. E este rosto se torna particularmente familiar e vizinho sobretudo no mistério da Eucaristia» (pág. 26).
A leitura deste itinerário espiritual contribua para a passagem ou conversão de observadores a contemplativos na oração, no testemunho e nas boas práticas de misericórdia e de paz.
X José Manuel Garcia Cordeiro
Arcebispo Metropolita de Braga
Presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade